Passei tres dias em Puerto Iguazu, fui duas vezes ao Paraguai e visitei as cataratas mas gostei muito do primeiro contato que tive com outros mochileiros, quase todos europeus. Até agora apenas havia viajado sozinho e conhecido pessoas aleatórias das cidades onde passei, tinha um certo preconceito e medo de encontrar gringos viajantes mas valeu a pena, ficarei outras vezes em hostels pelo mundo.

Lá em Iguazu encontrei com o Totonho, meu amigo punk e nos divertimos até numa festa no hostel, no dia seguinte fomos direto a Posadas de ônibus e de lá pegamos o trem. Eu havia decidido descer direto a Buenos Aires porque senti vontade de aprender logo o idioma castellano e nao ficar sozinho com meus pensamentos em portugues por horas de pedal. No trem tirei algumas fotos, as primeiras da viagem e vou posta-las aqui depois. Umas 6 horas de onibus mais 33 de trem, bem louca a viagem, paisagens dos pampas, criancas curiosas e muita música brasileira no violao.

Agora estou em Buenos Aires, daqui a pouco vou ao Obelisco encontrar a Dany, que está turistando por aqui e já volta a Brasília amanha. Gostei bastante da primeira impressao que tive de Buenos Aires, a cidade é muito bonita, há ciclistas nas ruas, é como uma Sao Paulo em porte mas com uma arquitetura mais bela e um comercio mais interessante. Esperava ver um povo mais europeu nas ruas pelo que escutava sobre o preconceito de argentinos contra negros ou brasileiros mas é uma populacao bem miscigenada com os indios (aborígenes como chamam). Acho linda a combinacao nas mulheres, da um ar sério, quiero una chica porteña para mi. Segunda feira comeco um curso intensivo de español para parar de fazer mímica por ai e é isso, mes que vem comeco a aprender gastronomia e o faco até dezembro, mas este blog fica por aqui.

Paraná

Fechei o Paraná depois de 6 dias de pedal e aproximadamente 570km rodados. Em cascavel encontrei e conheci o cicloturista Elsio que me acompanhou me ofereceu um canto pra dormir e companhia por alguns quilometros de pedal. Foi muito bacana a noite que passamos em cascavel bebendo na casa do colega dele Thiago e varios outros amigos. Agora estou em Puerto Iguazu, Argentina e um tanto encantado com o idioma castelhano e um pouco assustado tambem mas adoro a sensacao de me sentir em outro planeta hahaha. Agora conhecerei as cataratas, comprarei meus produtos paraguaios inclusive uma maquina fotografica e um uniforme de ciclista. Depois descerei a regiao de misiones ate entrar no Uruguai pelo Rio Grande do Sul ou pela Argentina mesmo.

Hoje terminei o terceiro dia de pedal e estou muito feliz, adoro essa vida de ficar viajando de cidade em cidade principalmente quando é um caminho desconhecido pra mim. Estou ansioso também pela experiencia de pedalar na Argentina e estar em outra cultura, outra língua. Até agora passei por várias cidades pequena e gostei da maioria principalmente de Cidade Gaúcha, onde dormi ontem, Paraíso do Norte, Rondon e Floraí. Esse pedal pelo noroeste do Paraná também está tendo outro efeito, o da consciencia ambiental que sempre me acompanha e as vezes persegue. Adoraria estar curtindo todo o caminho e as vistas mas as vezes fico puto com o descaso ambiental e vou entrar na briga do alcool brasileiro que está querendo ser feliz no resto do mundo. É que aqui há canavial pra todo lado e embora eu aprecie um caldo de cana (com limão que fica uma delícia) não posso deixar de agir contra essas fazendas de monocultura que não respeitam os mananciais. O fato de ter fazenda pra todo lado com poucos resquícios da mata original que ocupava quase todo o paraná até metade do séc. XX já é uma desgraça mas já que está desse jeito que pelo menos recuperem as margens dos rios onde tem mato alto e quase nada de mata ciliar... Quantas cachoeiras lindas nao devem ter sido enterradas, quantos rios cristalinos transformados em barro... não da pra concordar, vou entrar em contato com os políticos do parana e pedir satisfação e postar textos nos centros de midia independente da europa falando da merda ecológica que é a cana como está sendo cultiva, poderia dizer o mesmo do café ou da carne mas é um bom momento para a questão do alcool que promete ser a solução de combustivel limpo para europa (o que é uma piada).

ah, esqueci a camera em casa, vou ver se acho uma barata no paraguay, agora vou la so pra comprar barato, pra descobrir esse pais descendente dos guaranis e europeus sera outro pedal. a filha do embaixador do paraguai eu conheço, uma miss. :P

A inspiração para este pedal aconteceu no verão de 2006 quando eu passava por Bagé no Rio Grande do Sul para conhecer o IPEP, Instituto de Permacultura e Ecovilas dos Pampas. Lá chegando chamei por algúem que devia estar a minha espera mas o lugar parecia deserto, então entrei pela única porta que estava aberta e acordei um velho senhor cujo nome eu viria a conhecer no dia seguinte: Manoelito Pedal de Prata como ficou famoso.

Uma pessoa de uma humildade até desconcertante, carregava consigo um grande livro com a documentação de décadas sobre duas rodas que lhe tinham rendido recentemente o recorde do Guiness como o homem que mais quilômetros acumulou sobre uma bicicleta. Já tinha passado dos sessenta anos e desde os vinte e poucos pedalava pela América Latina sem folga registrando tudo em seu livro: fotos, reportagens, títulos... Um grande contador de histórias que não pararia de contá-las enquanto tivesse um ouvinte interessado.

Ao conhecer o Manoelito pensei pela primeira vez em viajar de bicicleta, o que é conhecido como cicloturismo, para mim parecia uma grande idéia que eu me espantava de não ter tido quando me arriscava em caronas de estranhos para viajar com pouca grana. Desde então fiz apenas duas viagens de bicicleta, uma acompanhado de uma amiga de Brasília até Pirinópolis com seus 300km de ida e volta e outra com dois amigos até a Chapada dos Veadeiros, 250km apenas ida. Agora já faz mais de um ano que não realizo uma travessia assim mas resolvi pedalar uma distancia muito maior que me levará do Paraná a Buenos Aires, se tudo correr bem.

Fiquei sabendo que Manoelito faleceu este ano quando passava mais uma vez pelo Rio Grande do Sul então é uma honra deixar o meu registro de sua história e seguir alguns caminhos que ele tantas vezes percorreu. Minha viagem começa em Brasília, de ônibus e continua em Foz do Iguaçu, onde comprarei os acessórios necesários pra realizar esta viagem e sigo sem preça rumo a Buenos Aires, onde farei um curso de cozinheiro e inicio meu aprendizado sobre a outra América Latina.